Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Gravura em Metal
É aquela técnica que utiliza tanto os métodos diretos como indiretos para incorporar à matriz (em geral) de cobre, latão ou zinco uma imagem com características nitidamente peculiares a esse processo de gravura. Nos chamados métodos diretos a mão e instrumentos atuam sulcando a superfície. Nos métodos indiretos, além dos instrumentos são utilizados agentes intermediários, tais como, mordente mais seu tempo de atuação, ceras, vernizes, redutores.
No Ocidente, os ouvires e artífices em metal foram provavelmente os primeiros gravadores e impressores de suas placas. As primeiras gravuras em metal na Itália e na Alemanha são, portanto, resultados de trabalho de artesões, cujos projetos não eram necessariamente artísticos. Vasari e Finiguerra (1426-1464), continuadores de uma tradição artesanal familiar, foram os descobridores da impressão extraída de uma placa de metal. Pollaiolo foi provavelmente o primeiro artista italiano de destaque a usar gravura em metal como projeto artístico. Na Alemanha, Schoungauer foi iniciador, seguido por Dürer, cujas gravuras permanecem até hoje como modelos de aprimoramento técnico aliado à excelente qualidade artística, do ponto de vista de expressão. A gravura em metal foi difundida rapidamente. Um sem números de gravadores e impressores se desenvolveram, particularmente a partir da possibilidade de reprodução fiel de desenhos e pinturas. A divulgação da obra de grandes mestres teve na gravura em metal o seu grande veículo. Por isso mesmo a gravura, como meio de expressão autônoma começa a enfrentar o fenômeno da decadência, que durou de 1550 a 1700. Apesar disso, alguns artistas destacam-se nesse período, praticando a gravura em metal pelos valores intrínsecos da técnica, do ponto de vista da força criadora inerente à matéria. Foram Dürer, Piranesi, Rembrandt, Callot, Horgath, Goya, Blake, entre outros mestres. Somente no século XIX a gravura em metal ganha autonomia desligada do simples processo de reprodução. Essa autonomia enriquece inclusive os processos e as técnicas. Desde então a gravura em metal entrou em franco desenvolvimento, conquistando, nas artes gráficas, em seu lugar de destaque.
Buril
Sobre a chapa de metal polida, é cavado um sulco pela ponta afiada de um buril de aço, cujo corte revela uma secção em losango em posição de ângulo a 45° em relação à chapa. O instrumento é diretamente manipulado pelo artista e a incisão é livre, de profundidade variável. O resultado é um traço seco e nítido, sendo que na impressão o buril oferece possibilidades de impressão em positivo e negativo (traço em branco ou em preto).
Ponta Seca
O artista empunha um instrumento de aço como se fosse uma pena (caneta); sua extremidade é em ponta fina, ao contrário do buril, que é losango. Com ela "rasgará" a superfície, em posição de escrita; ao fazê-lo, deixará ao longo do rasgo uma fina rebarba de metal que na impressão caracterizará essa técnica, por gerar uma linha mais aveludada. Só é passível de impressão em positivo.
Nesta técnica a placa é revestida por um verniz protetor. Com um estilete, o artista executa uma imagem, de modo a descobrir o metal. Onde o estilete retirar o verniz descobrindo o metal, o mordente (ácido nítrico, percloreto de ferro, mordente holandês) penetrará e atacará o metal, nele gravando a imagem. A partir deste princípio, a água-forte se desdobra em dezenas de variantes, tais como água-tinta, verniz mole, maneira negra, maneira ao açúcar, mezzotinta, processos combinados, etc. Estas variantes, além de mordentes, utilizam outros equipamentos: ceras, breu em grãos variados, brunidores, buris rajados, raspadores, gôndola e vedantes de consistências variadas. O tempo em que uma chapa é exposta à ação do mordente é que vai definir a qualidade e intensidade dos valores de luz e sombra e das texturas.