Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Fernando Odriozola
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A0087
Fernando Pascual Odriozola (Oviedo, Espanha 1921 - São Paulo SP 1986). Pintor, desenhista, gravador. Começa a pintar em 1936. Vem para o Brasil em 1953, e fixa residência em São Paulo. No ano seguinte, realiza sua primeira exposição individual, na Galeria Portinari. O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) dedica-lhe outra individual, em 1955. Na década de 1960, leciona no Instituto de Arte Contemporânea da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e colabora como ilustrador nos jornais O Estado de S. Paulo e Diário de S. Paulo, e na revista Habitat. Em 1964, integra, com Wesley Duke Lee (1931 - 2010), Yo Yoshitome (1925) e Bin Kondo (1937), o Grupo Austral, ligado ao movimento internacional Phases. Na 8ª Bienal Internacional de São Paulo, de 1965, recebe o prêmio de melhor desenhista nacional, que lhe proporciona uma sala especial na edição seguinte do evento. No ano de seu falecimento, 1986, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) realiza uma exposição retrospectiva póstuma em sua homenagem.
Comentário Crítico
Os trabalhos de Fernando Odriozola apresentam como característica comum uma aura de misticismo e mistério. A lua está presente em muitos deles, ora como um halo luminoso, ora como um círculo negro em eclipse, ora como uma silhueta minguante. Esse astro que paira acima de tudo, e parece reger essas telas, é como uma lembrança de que, além de observar, os espectadores são também observados. Em termos de composição, nas pinturas de Odriozola, a lua aparece ainda como contraponto fixo ao que está em primeiro plano: em alguns casos, vê-se a sugestão de figuras animais, executadas com traços quase caligráficos- em outros, observam-se pinceladas abstratas feitas de modo rápido e vibrante, destacando-se em relação ao fundo, geralmente feitos com tons rebaixados.
Essas pinturas parecem exigir do espectador um trabalho de organização pelo olhar, um comprometimento com o esforço de relacionar os termos do enigma para então poder decifrá-lo. Dessa maneira, advém das pinturas a sensação de que seus elementos, suspensos na composição, aguardam a ativação necessária por parte do observador. As formas e figuras sugeridas - realizadas em tons esmaecidos e contornos leves - surgem, assim, como elos visuais cuja função é interligar o imaginário do próprio espectador ao do artista.
Comentário Crítico
Os trabalhos de Fernando Odriozola apresentam como característica comum uma aura de misticismo e mistério. A lua está presente em muitos deles, ora como um halo luminoso, ora como um círculo negro em eclipse, ora como uma silhueta minguante. Esse astro que paira acima de tudo, e parece reger essas telas, é como uma lembrança de que, além de observar, os espectadores são também observados. Em termos de composição, nas pinturas de Odriozola, a lua aparece ainda como contraponto fixo ao que está em primeiro plano: em alguns casos, vê-se a sugestão de figuras animais, executadas com traços quase caligráficos- em outros, observam-se pinceladas abstratas feitas de modo rápido e vibrante, destacando-se em relação ao fundo, geralmente feitos com tons rebaixados.
Essas pinturas parecem exigir do espectador um trabalho de organização pelo olhar, um comprometimento com o esforço de relacionar os termos do enigma para então poder decifrá-lo. Dessa maneira, advém das pinturas a sensação de que seus elementos, suspensos na composição, aguardam a ativação necessária por parte do observador. As formas e figuras sugeridas - realizadas em tons esmaecidos e contornos leves - surgem, assim, como elos visuais cuja função é interligar o imaginário do próprio espectador ao do artista.
Nascimento/Morte
1921 - Oviedo (Espanha)
1986 - São Paulo SP - 9 de junho
Cronologia
Pintor, desenhista, gravador
ca.1936/ca.1939 - Participa da Guerra Civil Espanhola e serve como oficial no Norte da África. Nas fileiras militares nasce o gosto pela pintura
s.d. - São Paulo SP - Trabalha como ilustrador nos jornais O Estado de S. Paulo e Diário de São Paulo, e na revista Habitat
1953 - Vem para o Brasil e fixa residência em São Paulo
Década de 1960 - Leciona no Instituto de Arte Contemporânea da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap
1964 - Integra, com Wesley Duke Lee (1931), Yo Yoshitome (1925) e Bin Kondo (1937), o Grupo Austral, ligado ao movimento internacional Phases
Críticas
'A obra de Fernando Odriozola, ao longo dos anos, vem a cada dia sendo ainda mais um exercício da consciência, de uma consciência a um só tempo aguda e grave- aguda porque lírica- grave porque também épica. Seus espaços são sua forma de silenciar e tais silêncios nos lembram um simples verso do poeta Jules Valles. ´O espaço sempre me fez silencioso´. Fernando Odriozola utiliza-se do espaço visual de suas composições para compor sua sonata de esperança, na crença alquímica que todos deverão perceber suas cores de mago e bruxo, cores que falam de natureza (...). Pode parecer estranho, mas essa imensidão interior de Odriozola é a que oferece a verdadeira significação a certas expressões visuais de seus trabalhos. Não se pode ficar diante de seus desenhos ou pinturas sem sofrer uma espécie de magia que nos conduz à meditação- não a meditação dos gurus industrializados pelas metrópoles, mas os antigos sacerdotes de seitas tão misteriosas como inverossímeis. Em tais devaneios que conseguem dominar o homem meditativo, os pormenores se apagam, como ocorre nos trabalhos de Odriozola. O tempo se esconde e o espaço se estende, infinitivamente, pois não passa de diálogo entre duas imensidões'.
Alberto Beuttenmuller
FERNANDO Odriozola. Apresentação de Alberto Beuttenmuller. São Paulo: Galeria Alberto Bonfiglioli, 1979.