Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Marilia Rodrigues
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A0079
Marília Rodrigues (Belo Horizonte MG 1937 - Rio Acima MG 2009). Gravadora, desenhista e professora. Estuda desenho com Haroldo Mattos (1926) na Escola de Belas Artes, em Belo Horizonte, na qual, mais tarde, trabalha com xilogravura. Consegue bolsa para estudar gravura em metal no Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), com Edith Behring (1916-1996), Anna Letycia (1929) e Rossini Perez (1932), entre 1959 e 1962. Estuda também com Oswaldo Goeldi (1895-1961), na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Em 1963, leciona gravura em metal na Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, até 1965, e na Universidade de Brasília (UnB), pela qual se aposenta em 1993. Em 1983, leciona na Escola Guignard e, entre 1985 e 1986, na Oficina de Gravura Sesc Tijuca, no Rio de Janeiro.
Nascimento/Morte
1937 - Belo Horizonte MG - 26 janeiro
2009 - Rio Acima MG - 11 de abril
Cronologia
Gravadora, desenhista, professora
s.d. - Estuda desenho com Haroldo Mattos (1926) na Escola de Belas Artes, em Belo Horizonte, na qual, mais tarde, trabalha com xilogravura
s.d. - Estuda com Oswaldo Goeldi (1895-1961), na Escola Nacional de Belas Artes (Enba)
1959-1962 - Consegue bolsa para estudar gravura em metal no Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), com Edith Behring (1916-1996), Anna Letycia (1929) e Rossini Perez (1932)
1963-1993 - Leciona gravura em metal na Universidade de Brasília (UnB)
1963-1965 - Leciona gravura em metal na Escolinha de Arte do Brasil, Rio de Janeiro
1971-1973 - Leciona nos Festivais de Inverno de Ouro Preto
1980 - Participa da comissão de premiação da 3ª Mostra Anual de Gravura Cidade de Curitiba, na Casa da Gravura Solar do Barão
1983 - Leciona na Escola Guignard
1985-1986 - Leciona na Oficina de Gravura do Sesc Tijuca
Críticas
'Suas obras evidenciam o interesse pela conjunção de técnicas diversas. Nesse sentido, sua gravura abstrata explicita o interesse que, já em Minas, Marília tinha pela reunião de técnicas, ainda que em âmbito figurativo. Outros gravadores do começo dos anos 60 entram na abstração movidos por interesses semelhantes, como Anna Letycia, com quem, aliás, Marília aprende o metal. Conquanto seus percursos não coincidam, ambas deslizam na fronteira da figuração e da abstração, que, em alguma extensão, anulam-se enquanto diferença. Nas obras intituladas Montanha, Marília Rodrigues alude a uma dimensão figurativa de sua abstração: feita com água-forte e ponta-seca, Montanha, de 1961, abstraída a alusão do título, induz o observador a reunir os claros que a compõem como forma, que também poderia representar um bicho- todavia, o título levanta e abaixa a visão nesses claros, escrevendo orografias'.
Leon Kossovitch e Mayra Laudanna
In: GRAVURA: arte brasileira do século XX. Apresentação Ricardo Ribenboim- texto Leon Kossovitch, Mayra Laudanna, Ricardo Resende- design Rodney Schunck, Ricardo Ribenboim- fotografia da capa Romulo Fialdini. São Paulo: Itaú Cultural: Cosac & Naify, 2000, p. 18-19.