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Mario Gruber

Mario Gruber

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A0081

Mário Gruber Correia (Santos SP 1927). Pintor, gravador, escultor, muralista. Autodidata, começa a pintar em 1943. Muda-se para São Paulo em 1946 e matricula-se na Escola de Belas Artes, onde é aluno do escultor Nicolau Rollo (1889-1970). Em 1947, ganha o primeiro prêmio de pintura na exposição do grupo 19 Pintores. No ano seguinte realiza sua primeira exposição individual e passa a estudar gravura com Poty (1924-1998) e a trabalhar com Di Cavalcanti (1897-1976). Recebe bolsa de estudo em 1949, vai morar em Paris, estuda na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes] com o gravador Édouard Goerg (1893-1969) e trabalha com Candido Portinari (1903-1962). Retorna ao Brasil em 1951 e funda o Clube de Gravura (posteriormente Clube de Arte) em sua cidade natal, onde volta a residir. É professor de gravura no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em 1953, e dá aulas de gravura em metal na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, entre 1961 e 1964. Monta ateliê de gravura em São Paulo em 1970. De 1974 a 1978, mora em Paris, depois, ao retornar ao Brasil, mora em Olinda, Pernambuco. Em 1979, monta ateliê em Nova York. De volta a São Paulo, realiza obras de grande porte em espaços públicos como a estação Sé do Metrô e o Memorial da América Latina. Na década de 2000, continua a trabalhar intensamente, com uma produção anual de 100 a 120 obras.
Comentário Crítico

Autodidata, Mário Gruber começa a pintar na metade da década de 1940, apresentando uma produção ligada ao expressionismo. Em 1949, recebe uma bolsa do governo francês, e viaja para Paris, onde se dedica ao estudo de pintura e gravura. Retorna ao Brasil em 1951. Em sua obra gráfica dessa época, aproxima-se do realismo social praticado por outros artistas ligados aos clubes de gravura. A cidade, suas ruas e casas são temas para sua produção gráfica.
Mário Gruber realiza também pinturas de caráter figurativo, partindo de imagens cotidianas, como a vida nas metrópoles, para envolvê-las em jogos de imaginação. O artista cria personagens fantásticos, utilizando cores contrastantes que remetem à produção do pintor holandês Rembrandt van Rijn (1606-1669) e do espanhol Diego Velázquez (1599-1660). A partir da década de 1970, passa a empregar recursos do processo fotográfico, como a ampliação, para criar novos tipos de imagens. Pesquisa também as linguagens da televisão e do cinema. Mantém um constante diálogo com a tradição da história da arte, como na exposição de 1985, na qual recria telas do pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) e do francês Georges de La Tour (1593-1652), realizando ampliações a partir dos quadros desses artistas e apreendendo a dramaticidade e a dinâmica da luz presentes em suas obras.
A luminosidade apurada, a gama cromática muito controlada e a pincelada livre estão presentes em quadros posteriores, como Balão Verde e Preto (1996). Criando personagens que são freqüentemente mascarados, magos, anjos e robôs, Gruber produz obras que causam estranheza e relacionam-se a uma temática ligada ao realismo fantástico.

Nascimento/Morte
1927 - Santos SP - 31 de maio
2011 - Cotia SP - 28 de dezembro

Vida Familiar
Pai do pintor Gregório Gruber (1951)
Cronologia
Pintor, ceramista, gravador, escultor, muralista, desenhista, cenógrafo, professor

1943 - Inicia-se em pintura como autodidata
1946 - Em São Paulo começa a pintar em praça pública, quando trava contato com Mario Zanini e Bonadei, entre outros. Realiza sua primeira gravura
1946 - Estuda três meses com o escultor Nicola Rubens Rollo na Escola de Belas Artes, em São Paulo
1948 - Trabalha por algum tempo com Di Cavalcanti e estuda gravura com Poty, São Paulo
1949 - Com bolsa do governo francês, estuda gravura em metal com Édouard Goerg na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, em Paris
1949-1950 - Trabalha, e colabora na execução de alguns painéis, no ateliê de Candido Portinari, em Paris
1951 - Funda o Clube da Gravura, que depois se torna o Clube de Arte em Santos
1951-1953 - Leciona gravura na Escola de Artesanato do MAM/SP
1953 - É delegado paulista no 1º Congresso Continental de Cultura, realizado em Santiago do Chile, convocado por Gabriela Mistral, Pablo Neruda e Diego Rivera, que lhe transmite ensinamentos sobre materiais e técnicas da pintura mural
1956 - É membro da Comissão de Orientação Artística do MAM/SP
1956 - É fundador e primeiro secretário da União dos Artistas Plásticos de São Paulo
1957 - Realiza painel no Instituto do Matte, Projeto Vilanova Artigas, na Galeria Califórnia, em São Paulo
1958 - É membro do júri de premiação e da comissão organizadora do Salão Paulista de Arte Moderna
1960 - Realiza painel de 10 x 4 m no Ginásio Estadual de Guarulhos
1961-1964 - Leciona gravura em metal na Escola de Arte da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e é professor assistente no curso de formação de professores
1965 - Realiza painel no Grupo Escolar de Santos
1965 - O Instituto de Cinema Educativo (Ince), produz documentário cinematográfico sobre a obra do artista, com direção de Rubem Biáfora, produção de Flávio Tambeline e música de Rogério Duprat. Esse filme participa do Festival de Cinema de Veneza em 1967. Recebe Prêmio Governador do Estado e Prêmio Instituto Nacional de Cinema em 1966
1967 - Realiza documentário de curta metragem sobre sua primeira individual de pintura
1968 - É eleito vice-presidente da Associação Internacional dos Artistas Plásticos (Unesco)
1970 - Monta ateliê de gravura e de pintura, em São Paulo, no qual trabalham os artistas Wesley Duke Lee e Frederico Nasser, entre outros
1972 - O Banco Geral do Comércio S. A. adquire sua produção anual de pinturas
1972 - Participa da elaboração da cenografia da peça Cromossomos, de Clay Gama de Carvalho, no Teatro de Arena, com música de Gilberto Mendes
1973-1974 - Produz edições de gravura em metal na Impremérie Georges Leblanc, em Paris
1974 - Monta ateliê na Rue Bayen, Paris
1977 - Realiza painel de 20 metros para o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, depois transferido para o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos
1978 - Instala ateliê em Olinda, Pernambuco, no qual trabalha durante quatro meses
1979 - É convidado pela Emurb para executar um painel para Estação Sé do Metrô, São Paulo
1979 - Monta ateliê e divide suas atividades entre Nova York, Paris e São Paulo
1979 - Recebe a Medalha Mário de Andrade do Governo do Estado de São Paulo
1979 - Condecorado com Medalha do Mérito Cultural pela Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes de Santos
1980 - Recebe Prêmio Procópio Ferreira - Noite das Personalidades - troféus 1980 Padre Anchieta e Procópio Ferreira, realizada no salão da Sociedade Harmonia de Tênis, São Paulo
1982 - Nelson Pereira dos Santos dirige o curta-metragem A Arte Fantástica de Mário Gruber
1985 - É realizado Auto-Retrato, vídeo-tape pela Direta, Rede de Rádio e Televisão
1989 - Realiza painel para a biblioteca do Memorial da América Latina, São Paulo
1992 - Viaja para Paris, a convite do cineasta Serge Reggiani, para realizar cartaz promocional do seu filme

Críticas

'Mário Gruber é uma das personalidades artísticas mais singulares no movimento paulistano. Começou sua carreira logo depois da Segunda Guerra Mundial como um jovem artista de vanguarda de tendências arrojadamente expressionistas. Depois foi para a Europa onde sofreu profundamente o impacto da grande tradição da pintura do Ocidente, desde a Renascença até Courbet. Desde então Gruber foi tomado por uma paixão pela arte da pintura a óleo de Rembrandt, Velásquez, Rubens, Goya, Delacroix e Courbet, cujos últimos acordes encontrou em Van Gogh. (...) Dotado de uma capacidade descomunal de pintor e de uma paciência metódica de pesquisador, Gruber adquiriu um domínio surpreendente da técnica pictórica dos grandes mestres da tradição européia (...). A finalidade do aprimoramento técnico de Gruber, efetuado num sentido aparentemente contrário ao das correntes da pintura do século XX, foi em geral incompreendida tanto pelos seus admiradores como pelos seus opositores. (...). Gruber foi provavelmente motivado por intuições e premonições obscuras e profundas, largamente estranhas às concepções realistas que defendia verbalmente. Ele já tendia inconscientemente para um realismo fantástico de tipo muito pessoal. (...)'
Mario Schenberg
GRUBER. São Paulo: Portal Galeria de Arte, 1970.

'Como bem percebeu Antonio Cândido de Melo e Souza, toda a inquietude e variedade da obra de Mário Gruber pode ser resumida na atração dicotômica pelo máximo realismo e pelas formas de transcendência onírica do real. São, na verdade, dois modos distintos de que ele se vale para chegar a um mesmo propósito de tocar, compreender e refletir o mundo de hoje em que vive, refletindo também o acúmulo de camadas do passado nele necessariamente implícitas. Seu âmbito temático, veiculado sobretudo através da gravura em metal e da pintura, tem abrangido, portanto, uma série diversificada de interesses, embora a constante maior ainda se concentre na exigência figurativa (...). Na densidade ascendente da escala simbólica, Gruber parte da iconografia cotidiana mais atual - seres das cidades grandes ou das conquistas cósmicas, paisagens usuais e reconhecíveis, objetos de todos os dias - para pouco a pouco envolvê-la em jogos de imaginação, volta à própria infância ou aos tempos passados da humanidade, exercitando simultaneamente a projeção no futuro, entre a esperança e a ansiedade. Disso resultam seus personagens fantásticos, de cores e volumes agressivos (...)'.
Roberto Pontual
PONTUAL, Roberto. Arte/ Brasil/ hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.

'Nas gravuras iniciais de Mário Gruber, destacam-se a cidade, trechos seus, assim como casas, sob vários enfoques e iluminações, que põem em evidência sua relação com alguns gravadores paulistas, como Renina Katz e o grupo gaúcho do Clube de Gravura. O que aproxima esses gravadores é o realismo, fazendo-se a exposição em maio de 1956, pouco antes, portanto, da invasão da Hungria e da dissolução do Clube. Enquanto a maior parte dos realistas, de norte a sul, privilegia a xilogravura e a lineogravura, Gruber valoriza a calcografia. A essa distinção técnica corresponde outra, que, embora não o singularize, o aproxima de alguns gravadores, igualmente socialistas, como Renina Katz ou Vasco Prado, nos quais a cidade é o teatro da luta de classes em oposição ao campo, cena onde o costume a atenua, sendo o camponês mostrado atrasado. A exposição da cidade, suas ruas e casas é, pois, traço do realismo de Gruber no metal. Já em 1956 ele afirma que a pesquisa técnica é essencial a sua arte, tese análoga é proposta em 1992, quando o figurativo, que Gruber defende sem transigir, distingue a figura humana, que anda a fio da navalha, como diz, a forma e a essência. Essa exigência, concebida necessariamente em horizonte figurativo, situa a pesquisa técnica em calcografia de Mário Gruber na intersecção de uma figuratividade ampla. Investigador virtuoso da técnica, Gruber não se permite virtuosismo, pois, mesmo elevando-a, não a isola, porque a cruza com funções de figuração'.
Leon Kossovitch e Mayra Laudanna
KOSSOVITCH, Leon, LAUDANNA, Mayra. Gravura no Século XX. In: GRAVURA: arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural : Cosac & Naify, 2000. p.24.

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