Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
Voltar
Octavio Pereira
Voltar
A0090
Gaúcho de Porto Alegre, nascido em 6 de janeiro de 1929 e falecido em 23 de novembro de 1988, em São Paulo.
Sua escolaridade se fez no internato de Nova Hamburgo e no Colégio Cruzeiro do Sul de Porto Alegre.
Autodidata, teve uma ampla e variada vivência no universo das artes. Muito jovem iniciou-se em música estudando composição com Armando Albuquerque e instrumento, o plano, com Nato Henn. Posteriormente trabalhou com nomes do porte de Hugo Balzo e Alberto Ginestera.
Produziu diversas composições, mas interrompeu sua carreira após um acidente na mão.
Da música para a dança e teatro o andamento foi natural.
Exercitou o balé e a cenografia numerosas vezes.
Em 1957 emigrou para os Estados Unidos onde trabalhou em decoração, cenários e figurinos alcançando boa aceitação profissional, lá permanecendo dez anos. Em 1963 se estabeleceu em Los Angeles para ser impressor na Gráfica Gemini Gel sob orientação de Kenneth E. Tyler.
Imprimiu Joseph Albers, Frank Stella, Robert Rauschenberg, William Crutchfield, entre outros.
Em 1967 regressou ao Brasil, convocado no Rio de Janeiro onde fundou a litográfica Planus com Antonio Grosso. Já nessa época trabalhou com Maria Bonomi, Ivam Serra e Aldemir Martins.
Em 1970, abriu a Gráfica da Rua Jaguaribe em São Paulo, onde seu companheiro administrativo foi Fernando Silva. Imprimiu então Otávio Araujo, Mario Gruber, Saverio Castellano, Angelo Hodick, Miriam Chiaverini, Tomoshigue, Tuneu e Maria Bonomi.
Já em 1971, iniciou nova Gráfica na Rua Cincinato Braga com apoio de Seixas. Lá trabalharam Otávio Araujo, Saverio Castellano e Tomie Ohtake.
Em 1972, inaugurou a Gráfica na Rua Urano com a colaboração de Pepe. Depois disso, em 1973, Octávio Pereira fundou a Gráfica da Rua Amália de Noronha. Ai conheceu Elsio Motta com o qual criou, em 1974, a Gráfica da Rua Deputado Lacerda Franco, em Pinheiros, a partir de então a atividade litográfica se estabelece, se expande e é organizada em padrões profissionais e comerciais na formação da Gráfica Ymagos, com muito sucesso.
Entre 1975 e 1976, Octávio Pereira volta par ao Rio Grande do Sul, onde dirigiu a bem sucedida Galeria Guignard, até 1980, mas, mantendo sempre presente na Gráfica Ymagos e marcando com personalidade sua peculiar de catalisador cultural dos inúmeros profissionais que lá trabalharam e ainda trabalham.
Finalmente, livre de seus compromissos como editor e mestre impressor, pôde então executar sua obra artista que tornou pública numa série de exposições pelo Brasil, em 1986, a partir da Galeria Delphus em Porto Alegre, seguindo-se na Shis Galeria de Arte em Brasilia, na Galeria Spectrum em Lodrina, na Toki Arte Galeria em São Paulo e, finalmente, na Graphite Galeria em Natal.
...”o relacionamento entre o artista e o impressor é muito mais do que a simples soma das energias criativas do artista e da capacidade técnica do impressor. No atelier litográfico eles trabalham em grande intimidade e compartilham de uma mesma intenção. A essência da colaboração é o respeito mútuo. Apesar da complexa tecnologia da técnica litográfica ela é uma arte, não uma ciência, por isso, respeito mútuo, adaptabilidade e cooperação são necessários de todos os participantes. Qualquer forma de expressão artística – seja ela de pintura, escultura, música, desenho, poesia ou gravura, pode ser tratada de duas maneiras: como um processo “técnico mecânico” de trabalho ou como “uma linguagem” específica de expressão. Esta diferenciação é o que caracteriza a obra de arte – o “opus” –, a coisa feita digna, consciente, clara e definida. Não existem “técnicas nobres” – ou melhor: o material usado não implica na qualidade artística – o que enobrece é a liberdade de criação que permite o uso consciente e total dessa potencialidade. Madeira, linóleo, pedra, alumínio, cobre, zinco, óleo, aquarela, som ou palavra, são simplesmente recursos materiais utilizáveis”... (Octávio Pereira, 1977)