Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Percy Deane
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A0095
Percy de Mello Deane (Manaus AM 1921 - Rio de Janeiro RJ 1994). Pintor, desenhista, ilustrador, arquiteto. Aos dez anos muda-se com a família para Belém, onde freqüenta suas primeiras aulas de desenho. Ingressa na Faculdade de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes - Enba em 1938, mudando-se para o Rio de Janeiro. Nessa cidade, conhece Candido Portinari (1903 - 1962), de quem se torna amigo e entusiasta e passa dedicar-se somente às artes visuais. A partir de 1938, colabora regularmente, como ilustrador, para as publicações O Jornal, Dom Casmurro, Sombra, Diretrizes, Cigarra e Rio Magazine. Durante dez anos, entre 1941 e 1951, ilustra romances seriados para a revistaO Cruzeiro. Por encomenda de Oscar Niemeyer (1907), realiza o mural do Iate Clube da Pampulha, Belo Horizonte, em 1942. É premiado no Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, em 1940, 1941 e 1943, recebendo neste último o prêmio de viagem ao país. Expõe em Londres, em 1943 e participa da mostra 20 Artistas Brasileños, itinerante pelo Uruguai, Argentina e Chile, em 1945. Realiza mural em mosaico para a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, em 1951. Faz ilustrações para vários livros, entre eles: O Feijão e o Sonho (1968), de Paulo Leminski (1944 - 1989)- A Ponte (1975), de Erico Verissimo (1905 - 1975) e Memórias do Cárcere (1969), de Graciliano Ramos (1892 - 1953). É autor do retrato de João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999) que aparece na folha de rosto da publicação da obra completa do poeta, lançada pela Editora Nova Aguilar, em 1994.
Nascimento/Morte
1922 - Manaus AM - 30 de janeiro
1994 - Rio de Janeiro RJ
Formação
1932 - Belém PA - Freqüenta as primeiras aulas de desenho
1938 - Rio de Janeiro RJ - Estuda aquitetura na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, onde recebe orientação básica sobre pintura moderna com Quirino Campofiorito (1902 - 1993), de quem mais tarde se torna assistente de desenho
Cronologia
Pintor, desenhista, ilustrador, arquiteto
1921/ca.1931 - Manaus AM - Vive nessa cidade
ca.1931/1937 - Belém PA - Vive nessa cidade
1937 - Rio de Janeiro RJ - Muda-se para essa cidade
1938 - Rio de Janeiro RJ - Colabora regularmente, como ilustrador, com as publicações O Jornal, Dom Casmurro, Sombra, Diretrizes, Cigarra e Rio Magazine
1938 - Rio de Janeiro RJ - Vive nessa cidade
1939 - Rio de Janeiro RJ - Entusiasma-se com uma exposição de Candido Portinari (1903 - 1962) e passa a dedicar-se exclusivamente às artes visuais
1941 - Rio de Janeiro RJ - Participa do júri do Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna
1941/1951 - Rio de Janeiro RJ - Colabora como ilustrador de romances seriados para a revista O Cruzeiro
1942 - Belo Horizonte MG - Realiza o mural do Iate Clube da Pampulha, encomendado porOscar Niemeyer (1907)
1943 - Rio de Janeiro RJ - Realiza as ilustração do livro Eis a Noite, de João Alphonsus, publicado pela Editora Martins
1944 - Rio de Janeiro RJ - Participa do júri do 50º Salão Nacional de Belas Artes, no MNBA
1945 - s.l. - Ilustra a Antologia de Carnaval, de Wilson Louzada, publicado pela editora O Cruzeiro e Poemas em Manuscrito, de dez autores, publicado pela Editora Conde
1948 - Rio de Janeiro RJ - Participa do júri do Salão Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna
1951 - Rio de janeiro RJ - Ilustra o livro As Sete Histórias Verdadeiras, publicado pela Editora Vitória
1951 - Rio de Janeiro RJ - Realiza mural em mosaico para a Assembléia Legislativa
1960 - s.l. - Durante esta década, realiza desenhos do personagem Chiquinho, para a revista infantil O Tico Tico
1961 - s.l. - Ilustra a capa de Os Desertos, de Ricardo Ramos, publicado pela Editora Melhoramentos
1963 - s.l. - Ilustra os livros A Casa da Coruja Verde, O Lenço Encantado e Luzbela Vestida de Cigana, de Alina Paim, publicados pela Editora Conquista
1967 - Petrópolis RJ - Participa do júri do 1º Salão Nacional de Pintura Jovem, no Hotel Quitandinha
1968 - s.l. - Ilustra o livro O Feijão e o Sonho, de Orígenes Lessa (1903 - 1986), publicado pela Editora Record
1969 - Rio de Janeiro RJ - Ilustra o livro Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos (1892 - 1953), publicado pela Editora Martins
1973 - s.l. - Ilustra o livro Vejo a Lua no Céu, de Marques de Rebelo, publicado pela Editora Fontana
1975 - s.l. - Ilustra o livro A Ponte, de Érico Veríssimo (1905 - 1975), publicado pela Editora Nova Fronteira
1977 - s.l. - Ilustra o livro Cantiga ao Vento, de A. Tostes Malta, edição particular
1978 - s.l. - Ilustra o livro Memórias de Tizinho, de Leandro Tocantins, publicado pela Editora Civilização Brasileira
1979 - s.l. - Ilustra a antologia de contos Criança Brinca. Brinca?, de vários autores, publicado pela Editora Cultura
1981 - s.l. - Ilustra o livro A Morte de Ivan Ilitch, da Editora Alhambra
1982 - s.l. - Ilustra a antologia Os Sonetos, da LR Editores
1987 - s.l. - Ilustra o livro Zé Brasil, de Monteiro Lobato (1882 - 1948), publicado pela Editora Vitória
1988 - s.l. - Ilustra o livro O Inimigo Oculto, de P. Carlos Araújo, publicado pela Editora Gávea
1994 - s.l. - É autor do retrato de João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999) que aparece na folha de rosto da publicação da obra completa do poeta, lançada pela Editora Nova Aguilar
Críticas
'Em Percy há busca de linhas, cores, planos, áreas, imobilizações, pinceladas, sobreposições e raspagens que melhor edifiquem objetivamente esse lastro de humanidade sofrida e bela que nele existe, como agente e paciente, participante a seu modo do grande momento social que vivemos'.
Antônio Houaiss
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
'O amazonense Percy Deane (...), que, em pintura, se revelou como retratista, mostraria sobretudo atividade no âmbito da ilustração. Sua posição estética procurava conciliar arte clássica e moderna, contrapondo-se ao ERSATZ acadêmico, como ele afirmou em texto escolar'.
Walter Zanini
ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães : Instituto Walther Moreira Salles, 1983.
'Deane dedicou-se, como pintor, ao retratismo e à pintura social, praticando ainda a paisagem, a figura e outros gêneros. Ele mesmo assim buscou explicar o conteúdo de sua arte (...): - Faço paisagens que não são paisagens. Mostro através de minhas cenas noturnas a desumanização do mundo de hoje. Paisagens simbólicas com luas e sóis iluminando cidades despovoadas, paisagens urbanas, com simbolismos e interpretação trágica, numa tentativa de apresentar a solidão do homem nas grandes cidades'.
José Roberto Teixeira Leite
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.