Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Pietrina Checcacci
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A0147
Nascimento
1941 - Taranto (Itália) - 16 de julho
Formação
1958/1964 - Rio de Janeiro RJ - Estuda na Enba
1964/1965 - Rio de Janeiro RJ - Especializa-se em pintura na Enba
Cronologia
Pintora, desenhista, gravadora, escultora
1954 - Rio de Janeiro RJ - Vive nessa cidade
1964 - Rio de Janeiro RJ - Recebe o Prêmio Medalha de Ouro da Universidade do Brasil
1970 - Rio de Janeiro RJ - Recebe prêmio pesquisa pelo MAM/RJ
1980 - Rio de Janeiro RJ - Recebe o Prêmio Destaque da Pintura da Década de 1970/1980, no MAM/RJ
1980 - Roma (Itália) - Recebe o Prêmio São Gabriel pelo melhor selo religioso editado no mundo
1982 - s.l. - Recebe o Prêmio Rosa de Prata
Críticas
'Sua pintura desde cedo ligou-se a uma característica figuração crítica, de fundamento fotográfico, para cujas exigências a completa formação na Escola Nacional de Belas Artes armou-a de instrumentos hábeis. De início, no entanto, Pietrina interessou-se mais em dar à base realista uma deformação expressionista capaz de conferir a cada cena e personagem nível extra de atmosfera ou densidade dramática, tal como se pôde ver em diversos de seus estandartes. Pouco a pouco esse clima de intensificação narrativa foi sendo substituído por um alongamento art-nouveau, visível ainda em certas perspectivas deformadas para abrir caminho à languidez de corpos em curva e prazer, mergulhados nas flores. Com intenção de mostrar o uso sucessivo do corpo nas muralhas visuais dos cartazes cotidianos, com seus closes agigantadores do consumo, a pintura de Pietrina veio abandonando também a antiga polaridade do masculino-feminino para concentrar-se neste último elemento, sob várias camadas de símbolo: parcelas de corpos-terra flutuando em campos sanguíneos, vôo vagaroso, microscopia de mãos em gestos precisos, a textura da tela como indício da carne, arrepio da pele. Nos últimos trabalhos, já de amplas dimensões, intensifica-se a preocupação de fotografar hiper-realisticamente detalhes de gestos abertos ao ar, na continuidade desse percurso tenso e aveludado pela anatomia do corpo feminino em sonho, fuga, arfagem ou quase espasmo'.
Roberto Pontual
PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.