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Roberto Burle Marx

Roberto Burle Marx

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A0016

Roberto Burle Marx (São Paulo SP 1909 - Rio de Janeiro RJ 1994). Paisagista, arquiteto, desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de jóias, decorador. Durante a infância vive no Rio de Janeiro. Vai com a família para a Alemanha, em 1928. Em Berlim, estuda canto e se integra à vida cultural da cidade, freqüenta teatros, óperas, museus e galerias de arte. Entra em contato com as obras de Vincent van Gogh (1853 - 1890), Pablo Picasso (1881 - 1973) e Paul Klee (1879 - 1940). Em 1929, freqüenta o ateliê de pintura de Degner Klemn. Nos jardins e museus botânicos de Dahlen, em Berlim, entusiasma-se ao encontrar exemplares da flora brasileira. De volta ao Brasil, faz curso de pintura e arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, Rio de Janeiro, entre 1930 e 1934, onde é aluno de Leo Putz (1869 - 1940), Augusto Bracet (1881 - 1960) eCelso Antônio (1896 - 1984). Em 1932, realiza seu primeiro projeto de jardim para a residência da família Schwartz, no Rio de Janeiro, a convite do arquiteto Lucio Costa (1902 - 1998), que realiza o projeto de arquitetura com Gregori Warchavchic (1896 - 1972). Entre 1934 e 1937, ocupa o cargo de diretor de parques e jardins do Recife, Pernambuco, onde passa a residir. Nesse período, vai com freqüência ao Rio de Janeiro e tem aulas comCandido Portinari (1903 - 1962) e com o escritor Mário de Andrade (1893 - 1945), no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal. Em 1937, retorna ao Rio de Janeiro e trabalha como assistente de Candido Portinari. O final da década de 1930 arca a integração de sua obra paisagística à arquitetura moderna, época em que o artista experimenta formas orgânicas e sinuosas na elaboração de seus projetos. Sua paixão por plantas remonta à juventude, quando se interessa por botânica e jardinagem, mas é em 1949 que Roberto Burle Marx organiza uma grande coleção, quando adquire um sítio de 800.000 m², em Campo Grande, Rio de Janeiro. Em companhia de botânicos, realiza inúmeras viagens por diversas regiões do país, para coletar e catalogar exemplares de plantas, reproduzindo em sua obra a diversidade fitogeográfica brasileira.
Comentário Crítico
O estudo da paisagem natural brasileira é um elemento fundamental nos projetos de Burle Marx, desde o início da carreira. Sua obra tem caráter inovador: trabalha como botânico e pesquisador - realiza excursões pelo país, descobre espécies vegetais, incorpora as plantas do cerrado, espécies amazônicas e do sertão nordestino em suas obras. Inclui em seus parques e jardins elementos arquitetônicos como colunas e arcadas, encontrados em demolições- utiliza ainda mosaicos e painéis de azulejos, recuperando a tradição portuguesa.
Destaca-se em seus projetos a preocupação com as massas de cor, obtidas pela disposição de arbustos e árvores em grupos homogêneos, de acordo com seu potencial de mudanças cromáticas, ao longo das estações do ano. Essa mesma atenção em relação à cor, é conferida aos materiais minerais empregados: pedras, seixos e areias. Cria jardins de formas orgânicas, delineados por um contorno preciso, como pode ser visto, por exemplo, no Conjunto da Pampulha (Belo Horizonte, 1942-1945). Na Fazenda Marambaia (Petrópolis, 1948) e no Rancho da Pedra Azul (Teresópolis, 1956) integra a paisagem construída ao cenário natural: os jardins se expandem e incorporam a natureza local. Em 1949, Burle Marx adquire o Sítio Santo Antônio da Bica, nas proximidades do Rio de Janeiro, onde reúne e estuda exemplares, muitas vezes raros, da flora brasileira. A partir da década de 1950, utiliza em seus trabalhos uma ordenação mais geometrizante, como ocorre na Praça da Independência (João Pessoa, 1952).
Burle Marx colabora com arquitetos modernos em projetos em que a arquitetura e o paisagismo são integrados. Trabalha com Lucio Costa (1902 - 1998) no projeto dos jardins do Ministério da Educação e Saúde (Rio de Janeiro, 1938-1944) e do eixo monumental de Brasília (1961-1962)- com Rino Levi (1901 - 1965) na residência Olivo Gomes (atual Parque da Cidade Roberto Burle Marx, São José dos Campos, 1950-1953 e 1965)- com Affonso Eduardo Reidy (1909 - 1964) nos jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ (1954-1956) e do Parque do Flamengo (1961-1965)- e com Oscar Niemeyer (1907) no conjunto da Pampulha.
Paralelamente, trabalha como pintor, dedicando-se, na década de 1930, a naturezas-mortas com motivos da flora brasileira, em traços sinuosos e uma paleta de tons sóbrios. Produz quadros em que incorpora soluções formais do cubismo, como na obra Abóboras com Bananas (1933). Na pintura mantém diálogo com Picasso e com os muralistas mexicanos, representando figuras do povo, cenas de trabalho e favelas. Em seus retratos aproxima-se da obra de Candido Portinari (1903 - 1962), com quem estuda em 1935, e Di Cavalcanti (1897 - 1976), na representação realista dos personagens.
Emprega o geometrismo ao pintar cidades, construídas em linhas retas, com uma paleta sóbria, em que predominam tons amarelo, cinza e preto, como em Morro do Querosene(1936) e Morro de São Diogo (1941). Paralelamente, um novo tratamento formal é percebido em alguns quadros: a passagem gradual para o abstracionismo, como emCataventos (1940), Figura em Cadeira de Balanço (1941) e Peixes (1944).
A obra de Burle Marx atinge uma linguagem particular a partir da década de 1950. A tendência para a abstração consolida-se e a paleta muda, passando a incluir muitas nuances de azul, verde e amarelo mais vivos. Em suas telas o trabalho com a cor está associado ao desenho, que se sobrepõe e estrutura a composição. Nos anos 1980, passa a realizar composições geométricas em acrílico, os contornos são desenhados com a cor, as telas adquirem um aspecto fluído, flexível e ganham leveza.
Ao longo de sua carreira são numerosos os desenhos a nanquim, nos quais, muitas vezes, trabalha com motivos tirados da trama finíssima de folhagens e galhos. Embora tenha como base a natureza, seus desenhos são, essencialmente, de caráter abstrato, com a predominância de elementos lineares. Utiliza o nanquim para obter gradações em tonalidades diversas, como pode ser visto no desenho Dia e Noite (Série 1973, 1).
Inspirando-se constantemente em formas da natureza, suas pinturas e desenhos refletem a indissociável experiência de paisagista e botânico. Na década de 1970, tem marcante atuação como ecologista, defendendo a necessidade da formação de uma consciência crítica em relação à destruição do meio ambiente. O Sítio Santo Antônio da Bica é doado ao governo federal em 1985, passando a chamar-se Sítio Roberto Burle Marx, e constitui um valioso patrimônio paisagístico, arquitetônico e botânico.

Nascimento/Morte
1909 - São Paulo SP - 4 de agosto
1994 - Rio de Janeiro RJ - 4 de junho
Formação
1928/1929 - Alemanha - Freqüenta o ateliê de pintura de Degner Klemn
1930/1934 - Rio de Janeiro RJ - Curso de pintura e arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes - Enba- é aluno de Leo Putz (1869 - 1940), Augusto Bracet (1881 - 1960) eCelso Antônio (1896 - 1984)
1935/1937 - Rio de Janeiro RJ - Freqüenta as aulas do pintor Candido Portinari (1903 - 1962) no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal - UDF
Cronologia
Paisagista, arquiteto, desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de jóias, decorador

1913/1934 - Rio de Janeiro RJ - Vive nessa cidade
1932 - Rio de Janeiro RJ - Paisagista do jardim da residência da família Schwartz em Copacabana, projetada pelos arquitetos Gregori Warchavchik (1896 - 1972) e Lucio Costa (1902 - 1998)
1934/1937 - Recife PE - Vive nessa cidade
1934 - Recife PE - É nomeado diretor de Parques e Jardins do Recife- projeta uma série de praças e jardins públicos, além de criar, em 1937, o primeiro Parque Ecológico do Recife
1937 - Rio de Janeiro RJ - Trabalha como assistente de Portinari na execução dos murais do Ministério da Educação e Saúde, da série O Homem e o Trabalho
1937/1994 - Rio de Janeiro RJ - Vive nessa cidade
1949 - Campo Grande RJ - Adquire sítio onde organiza uma grande coleção de plantas
1954 - São Paulo SP - Realiza o projeto paisagístico para o Parque Ibirapuera
1955 - Rio de Janeiro RJ - Realiza o projeto paisagístico para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ
1961 - Brasília DF - Realiza o projeto paisagístico para o eixo monumental de Brasília
1968 - Washington (Estados Unidos) - Realiza o projeto paisagístico para a Embaixada do Brasil
1971 - Brasília DF - Recebe a Comenda da Ordem do Rio Branco do Itamaraty
1982 - Haia (Holanda) - Doutor honoris causa da Academia Real de Belas Artes de Haia
1982 - Londres (Inglaterra) - Doutor honoris causa do Royal College of Art

Críticas
"A pintura de Burle Marx, agora, procura situar-se como levantamento visual do paisagismo trabalhado. Procura devestir o desenho de sua presença incisiva, mas sob as cores e paralelamente o desenho guarda nos quadros de Burle Marx essa trepidação orquestrada, o segredo de uma ordem. Donde a reminiscência braquiana, que esteve sempre em sua profunda obediência à ordem do mestre, a regra contingenciando a emoção. Pintura que reatualiza a prospecção cubista, dentro das invariantes abstratas, investindo nessas invariantes um relacionamento em que as formas produzem às vezes um bailado de ritmo grave (estamos pensando em quadros do tipo da Composição 1). Dizer que essa pintura acabou na ´Extravasaria´, um dos nomes propostos pelo próprio artista ao resultado a que chegou, é concordar em gênero e número com sua busca de imagens - pois há de tudo nessa pintura quanto a imaginária informada pela geometria deixa escapar de um sensualismo colorístico. Somos levados a concluir que os grandes quadros anteriores melhor se condensaram nos quadros de 1974. (...) O artista em sua maturidade, não há mal repetir essa conseqüência assinalada já, é uma projeção de personalidade inteiriça, que transfunde em todos os seus gestos o desenho urbano do chão, dos jardins verticalizados, da flora que fornece todo o seu temário".
Geraldo Ferraz
FERRAZ, Geraldo. Personalidade num Temário. In: MARX, Burle. Roberto Burle Marx. São Paulo: MAM, 1974.

"As texturas são variadas nos diversos trabalhos. Mas, percebe-se que o artista fixou o ambiente, representados alguns deles numa visão bidimensional e outros numa curiosa perspectiva abstrata. Sob esse aspecto, seus desenhos são muito atuais. Denotam o propósito do artista em renovar-se, numa múltipla produção de jardins, esculturas florais, tapeçarias e desenhos os mais diversos. Burle Marx é por isso mesmo um artista que procura atingir o universal, coisa rara em nossa época. Os desenhos mais escuros, com nanquim distribuído em tonalidades diversas, são muito curiosos, tanto do ponto de vista das variações e gradações dos cinzas, como dos pretos e brancos, com ligeiras nuances. Alguns até parecem coloridos, pelos vários matizes obtidos pelas pinceladas. Outros têm efeitos comuns às gravuras. São obras laboriosamente executadas e que mostram outra faceta do poderoso talento visual do desenhista".
Antonio Bento
BENTO, Antonio. Desenhos e Pinturas de Roberto Burle Marx. In: MARX, Burle. Roberto Burle Marx. São Paulo: MAM, 1974.

"A diferença que noto entre sua pintura e o seu desenho se traduz como gradação temática. Na fase atual, a composição deriva da estrutura vegetal, solta e esquematizada no espaço. Isto resultou de sua imensa vivência de jardinista, de botânico, de ecologista capaz de ver e entender o íntimo das plantas, mas por uma outra razão, pode se considerar como alcance meramente estético do exercício plástico. Observando e anotando, exaustivamente, estruturas vegetais sobrepostas, assim como se somam na natureza, Roberto Burle Marx pôde construir no desenho uma linguagem individual de plenitude. Como filiação estilística, quando muito poder-se-ia dizer contemporâneo de Picasso, Braque e Matisse mas há de se reconhecer que a Roberto Burle Marx coube desenhar a trama do mundo vegetal, descobrindo espaços, planos e claros-escuros por ninguém jamais revelados".
Clarival do Prado Valladares
VALLADARES, Clarival do Prado. Roberto Burle Marx em 1974. In: MARX, Burle. Roberto Burle Marx. São Paulo: MAM, 1974.

"A obra gráfica, desenhada em preto e branco do artista, tem tanta importância quanto a da sua forte contribuição como colorista. O caráter transitório do desenho, de linha que avança, faz com que ele seja como Mário de Andrade tão bem apontou uma espécie de 'arte intermediária entre as do espaço e do tempo. (...) Porque o desenho é por natureza um fato aberto'. Essa liberdade intrínseca ao desenho confere às gravuras aos nanquins ás águas-fortes, a certas telas e tapeçarias de Roberto grande fluidez na trama imaginante das formas. Ao mesmo tempo que compõe com a gama ampla das cores de maneira orquestral, Roberto cria densidade ainda mais dramática no diálogo concentrado de duas notas: o preto e o branco, às vezes acrescidos de sépias ou cinzas. (...) Como traço tênue, é ainda o desenho que intervém em alguns pontos para dar escala a grandes manchas de cor - azul, amarelo, vermelho, violeta - em composições essencialmente cromáticas como Guaratiba, de 1989. Em outros trabalhos, a estrutura das linhas se adensa, e cerca a cor que, como num vitral, tem a sua luz projetada de dentro".
Lélia Coelho Frota
FROTA, Lélia Coelho. Roberto Burle Marx: uma homenagem. In: MARX, Burle. Arte e paisagem: a estética de Roberto Burle Marx. São Paulo: MAC/USP, 1997. 60 p., il., figs. color. p. 25.

"A criação paisagística permite-lhe lidar com a qualidade abstrata da forma moderna, sem os limites objetivos de sua utilização pictórica. Este parece ser o cerne da qualidade artística de seus jardins: o lugar de lidar com circunstâncias formais no espaço, Burle Marx cria um fato espacial concreto. Para tal, precisa recusar a poda, a busca de uma formalização arbitrária, representativa da forma pictórica. O seu ideal de formalização dos gestos da natureza imbrica-se na vontade de liberar a forma plástica de seus constrangimentos, de percebe-la como um dado concreto da existência e, portanto, necessariamente instável e cambiante.
(...) Burle Marx desenvolveu, como poucos, a capacidade de antecipar as relações formais entre as espécies de plantas que escolhia para seus jardins. Combinava as tonalidades das folhagens perenes com as cores das flores ou inflorescência episódicas, surgidas em determinados períodos do ano. Trabalhava com contrastes cromáticos intensos que nada tinham a ver com as cores usadas em suas planimetrias em guache. O desenho jamais determinou o destino do jardim, que o paisagista sabia ser imprevisível e instável. Um claro exemplo disso é o jardim da residência de Odette Monteiro, em Correias, Petrópolis, (RJ), remodelado pelo próprio Burle Marx na década de 1980, quando a propriedade passou às mãos de Luiz César Fernandes. Como aponta Rossana Vaccarino, neste caso o trabalho com as oposições cromáticas supera qualquer aplicação de regras bidimensionais: 'Cor é uma dimensão que transmite volumes e texturas para suas paisagens, e o faz no ambiente natural brasileiro' ".
Vera Beatriz Siqueira
SIQUEIRA, Vera Beatriz. Burle Marx: paisagens transversas. In: SIQUEIRA, Vera Beatriz, EUVALDO, Célia (coord.). Burle Marx. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. 128 p., il. color. (Espaços da arte brasileira), p. 26-27.

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