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Rubens Gerchman

Rubens Gerchman

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A0256

Rubens Gerchman (Rio de Janeiro RJ 1942 - São Paulo SP 2008). Pintor, desenhista, gravador, escultor. Em 1957, freqüenta o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde estuda desenho. Faz curso de xilogravura com Adir Botelho (1932) e freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, entre 1960 e 1961. Em 1967, é contemplado com o prêmio de viagem ao exterior no 16º Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM e viaja para os Estados Unidos. Reside em Nova York entre 1968 e 1972. Retorna ao Brasil e faz o roteiro, a cenografia e direção do filme Triunfo Hermético e os curtas ValCarnal e Behind the Broken Glass. De 1975 a 1979, assume a direção da Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro. É co-fundador e diretor da revista Malasartes. Em 1978, viaja para os Estados Unidos com bolsa da Fundação John Simon Guggenheim. Em 1981, a convite da arquiteta Lina Bo Bardi (1914 - 1992), realiza painel de azulejos para o Sesc Fábrica Pompéia, em São Paulo. Em 1982, permanece por um ano em Berlim como artista residente, a convite do Deutscher Akademischer Austauch Dienst - DAAD [Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico]. Lança, em 1989, o livro Gerchman, com textos do crítico de arte Wilson Coutinho. Publica o álbum de litografias Dupla Identidade, com texto do poeta Armando Freitas Filho (1940), em 1993. Como docente ministra cursos no Brasil e no exterior. Em 2000, lança álbum com 32 litografias, primeiro volume da coleção Cahier d'Artiste, da Lithos Edições de Arte.
Comentário Crítico
Em suas primeiras telas, Rubens Gerchman pinta cenas urbanas bucólicas. Contaminado pelo universo da cultura de massa, faz quadros retratando as multidões e o mundo impresso nas páginas dos meios de comunicação. Em 1962, sai da Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Dois anos depois, realiza sua primeira exposição individual, na Galeria Vila Rica, no Rio de Janeiro. Mostra guaches e painéis, predominantemente em preto-e-branco. Nos trabalhos, as multidões aparecem de forma pouco detalhada, reafirmando o anonimato dos indivíduos, tendo Jean Dubuffet (1901 - 1985) como referência. Sua temática sai da vida popular da metrópole: pinta concursos de miss, jogo de futebol e narrativas de telenovelas e histórias em quadrinhos.
Na coletiva Opinião 66, mostra obras críticas da situação brasileira, como Caixas de Morar,Elevador Social e Ditadura das Coisas. Na época, faz seus primeiros trabalhos tridimensionais, vinculados às discussões da Nova Objetividade Brasileira. Esse debate se materializou em uma exposição em 1967, unindo artistas como Hélio Oiticica (1937 - 1980) e Carlos Vergara (1941). No mesmo ano, é premiado pelo Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM. Com o prêmio, muda-se para Nova York. Lá se dedica a poemas visuais tridimensionais e faz peças como Tool , 1970, Air e SOS , 1967. Nos Estados Unidos, ajuda a organizar o boicote à Bienal Internacional de São Paulo, nomeada de 'Bienal da Ditadura'. A partir de 1972, suas esculturas ganham a forma de múltiplos. O artista obtém grande sucesso comercial com eles.
Em 1973, retorna definitivamente ao Brasil e faz sua primeira retrospectiva, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ. Um ano depois, participa da fundação da revistaMalasartes. Na época, faz gravuras em colaboração com Claudio Tozzi (1944) e Hélio Oiticica. Sua obra usa a palavra escrita, e mostra grande afinidade com a arte conceitual. A partir de 1975, assume a direção da Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage. No período, dedica-se a telas feitas com base nas narrativas dos quadrinhos e na produção popular de imagens, como em Virgem dos Lábios de Mel (1975).
Nos anos 1980, o artista retoma a pintura realista. Faz quadros e relevos. Ocupa-se, sobretudo, de temas como a criminalidade, as multidões e de aspectos pitorescos da vida na cidade, como Banco de Trás, 1985 e Beijo, 1989. Essas pinturas são mais coloridas e gestuais. Aproxima-se das correntes neo-expressionismo da época. Na década de 1990, as figuras de suas telas são trabalhadas em esculturas e litografias.
Nascimento/Morte
1942 - Rio de Janeiro RJ - 10 de janeiro
2008 - São Paulo SP - 29 de janeiro
Cronologia
Pintor, desenhista, gravador, escultor
1950/1957 - Vive em Friburgo, Rio de Janeiro
1957/1958 - Volta para o Rio de Janeiro e estuda no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro
1958/1966 - Trabalha como profissional gráfico em revistas e jornais
1960/ca.1961 - Freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, onde estuda xilogravura com Adir Botelho (1932)
1967 - É tema, juntamente com Roberto Magalhães (1940) e Antonio Dias (1944), do curta-metragem Ver e Ouvir de Antonio Carlos Fontoura
1967 - Organiza a primeira exposição de Hélio Oiticica (1937 - 1980), na Galeria G-4, no Rio de Janeiro
1968 - Muda-se para Nova York, onde permanece até 1972. Funda com L. Camister, Liliane Poter e Omar Rayo o Museu Latino-Americano do Imaginário
1972 - Cria a empresa Integralia Corporation com o objetivo de produzir pequenosmúltiplos
1972 - De volta ao Brasil, vive no Rio de Janeiro. Realiza Triunfo Hermético, filme em cores de 35 mm, do qual é roteirista, cenógrafo e diretor
1973 - Realiza o álbum de gravuras Post-Scriptum, com Claudio Tozzi (1944)
ca.1973 - Muda-se para São Paulo
1974 - Realiza a edição de gravuras Parangoles Cape, de Hélio Oiticica
1975/1976 - De volta ao Rio de Janeiro é co-fundador e diretor da revista Malasartes
1975/1979 - Assume a direção do antigo Instituto de Belas Artes e o transforma na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage. Funda a Oficina do Cotidiano e organiza exposições
1977 - Organiza com seus alunos a performance SOS MAM, em homenagem a Torres García, após o incêndio do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ
1978 - Viaja pelo México, Guatemala e Estados Unidos, coom bolsa da Fundação John Simon Guggenheim
1981 - Prêmio Golfinho de Ouro - Personalidade do Ano no Setor de Artes Plásticas, oferecido pelo governo do Estado do Rio de Janeiro
1981 - Desenha os azulejos para o restaurante do Sesc Pompéia, em São Paulo, projeto de Lina Bo Bardi (1914 - 1992)
1982 - Monta a exposição de Sérgio de Camargo (1930 - 1990) na Gimpel-Weisenhoffer Gallery em Nova York
1988 - Recebe o prêmio Embaixador do Rio
1992 - Recebe bolsa do Deutscher Akademischer Austauch Dienst - DAAD [Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico]
2000 - Lança álbum com 32 litografias, primeiro volume da coleção Cahier d'Artiste da Lithos Edições de Arte, no Museu Lasar Segall
Críticas
'Rubens Gerchman parte da redundância, usa os materiais que a civilização da vulgaridade oferece, mas em nome de uma idéia que não visa à criação do insólito pelo insólito, e sim a uma participação do coletivo. As Caixas de Morar de Gerchman não são um insólito na redundância do cotidiano, para retificá-lo (mensagem surrealista) ou para comprazer-se nele (mensagem da pop art), mas uma redução radical do real dado. Ele nos propõe uma reedificação urbanística da cidade eugênica do futuro. É uma cidade de subdesenvolvido. Daí seu mérito. A objetividade de sua démarche não está na construção das caixas por ela mesma, mas na direção extrovertida da sua prática. O insólito não está no cotidiano fundado no uso e na rotina. O insólito aqui é a infra-realidade, ou a realidade que está por baixo das superestruturas e não demanda o poeta para detectá-lo mas uma ação, um acontecimento para encontrar a lei de uma realidade que o produz. A relação redundância-insólito é assim invertida. Em Gerchman e em outros a redundância é que revela o insólito, e o que lhes sai das caixas, por exemplo, não é nenhum exercício da auto-expressividade, mas um esforço de construir uma nova relação com a realidade'.
Mário Pedrosa
GERCHMAN, Rubens. Rubens Gerchman. Texto Mário Pedrosa. Rio de Janeiro: MAM, 1973.
'Em desenhos, pinturas, serigrafias e montagens, Gerchman foi colocando então em cena personagens sem identidade imediata, manequins saídos do povo, figurinhas de jornal, mitos da classe média, do subúrbio ou dos subterrâneos da cidade grande. Gente anônima, marginal, apinhando-se em ônibus ou em caixas de morar, siderada pelas misses, os jogadores de futebol e os astros da tela ou do som, que lhe lançam a isca de modelos-fetiches da sociedade de consumo. Os desaparecidos reaparecidos no triste instante de glória de uma foto no jornal, as manchetes com o suor e o sangue de todos os que, de repente e brevemente, ganham nome na ´geléia geral´ - com isso, munido de um certo ar de cordel e da tática do mau gosto, ele construiu a sua incômoda galeria de tipos, na qual A Bela Lindonéia, Gioconda do Subúrbio, em 1966, e a Mona Lou, de lábios carnudos e crimes comuns à classe média, em 1975, ocupam a posição de faróis'.
Roberto Pontual
PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Prefácio de Gilberto Allard Chateaubriand e Antônio Houaiss. Apresentação de M. F. do Nascimento Brito. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1987.
'São placas de metal, sucata de estaleiros navais, material desprezível, jogado fora, abandonado, despido já de qualquer significado. É justamente este material carente de significação, despojado de simbolismo, que Rubens Gerchman (Rio de Janeiro, 1942) recolheu para fazer a sua incursão inesperada na área da escultura. Um verdadeiro escândalo e acinte. Como um pintor conhecido, marcado por suas iniciativas e participações, numa fase madura, envolve-se, de repente, com outra técnica? Coerente. Na pintura Gerchman costuma, também, surpreender. E lá, como agora, ele recolhe seres despojados, despidos de significado. É no seu gesto de recuperação, no entendimento da figura humana como emblemática, que o simbolismo surge e se torna uma marca do mundo social, uma representação de suas possibilidades. Na escultura, o pensamento é regido pelo mesmo princípio. E o material escolhido, pelo tratamento, torna-se emblemático do ser humano'.
Jacob Klintowitz
KLINTOWITZ, Jacob. O Ofício da arte: a escultura. Apresentação Abram Szajman. São Paulo: Sesc, 1988.
'A produção de Gerchman opera, então, em dois eixos: a superação da imagem e a acentuação de jogos semânticos, que visam conexões críticas com o real, através da síntese mental. Nesse caso, a palavra isolada buscando esses nexos, procedimentos dos concretos e neoconcretos, assume um papel relevante na produção nova-iorquina de Gerchman. A palavra também é arquitetura e escultura. Assim é o que acontece com o trabalho Ar, uma escultura para grandes espaços abertos, feita de plexiglass transparente. Na obra, como havia separação entre os elementos da letra, a haste vertical do ´R´ pode ser vista como ´I´, o que daria em inglês a palavra ´Air´. Há também uma questão social: a escultura, translúcida, eleva-se contra o ar poluído.
É verdade que desde 1966 Gerchman tinha orientado seu trabalho para obras em três dimensões, quando produziu suas ´marmitas´ e ´caixas de morar´, por exemplo. Mas o processo agora é deliberadamente o de estimular relações conceituais. Em outro trabalho, trata-se da utilização da palavra sky, dissecada em eye (olho), yellow (amarelo) e line (linha), em mais outro é a união das palavras man (homem) e woman (mulher), um S de madeira negra sobre areia branco-cinza serpenteia a palavra snake (cobra), no meio há a palavra sinuous (sinuosa) e finalmente em baixo sign (signo). É do mesmo período a escultura de letras Lute, obra que seria um monumento para o asfalto, ou o poéticoMarazul-Marazul, de poliéster transparente, que deveria permanecer flutuando na enseada de Botafogo. Gerchman explicaria o seu trabalho: Não acho que a palavra em artes plásticas leve a uma visão ´literária´ do que deveria ser visual ou tátil. Acho importante reduzir a palavra ao essencial, o significado por si só gasto. Quero reaprendê-la. Da redundância de colocar a palavra água escrita dentro de um cubo de água vem mais força, ganha-se uma sobrecarga de informação'.
Wilson Coutinho
Coutinho, Wilson. Na era do conceito e a antropologia do desejo. In: GERCHMAN. Comentário Wilson Coutinho. Rio de Janeiro: Salamandra, 1989, p.23.

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