Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Thereza Miranda
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A0110
Thereza Miranda Alves (Rio de Janeiro RJ 1928). Gravadora, pintora e desenhista. Estuda filosofia na Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) em 1947. Nesse mesmo ano, inicia sua aprendizagem em artes nas aulas de pintura do ateliê de Carlos Chambelland (1884-1950), no Rio de Janeiro. Sua incursão no campo da gravura começa quando, a partir de 1963, freqüenta o ateliê de gravura do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), onde aprende as técnicas da gravura em metal com Walter Marques. No final da década de 1960, sua obra começa a figurar nas principais bienais e exposições internacionais, tais como: Bienal Pan-americana de Gravura, no Chile- Bienal de Gravura em Cracóvia, Polônia- Bienal de Gravura de Branford, Inglaterra. Em 1974, com Bolsa da British Council, estuda fotogravura com Denis Mazi no Croydon College of Art de Londres. Desde de 1974, leciona gravura e ilustração na PUC/RJ. No MAM/RJ, no período de 1983 a 1986, leciona gravura. De 1990 a 1992, ministra aulas de fotogravura no Ateliê Livre em Porto Alegre. Paralelamente as atividades de gravadora, pintora e professora, Thereza Miranda assume o cargo de diretora do Centro de Artes Calouste Gulbenkian, no Rio de Janeiro, de 1993 a 2000.O ano de 1994 marca seu retorno a pintura expondo na Galeria Candido Mendes no Rio de Janeiro. O resgate e a valorização do patrimônio histórico e das paisagens são temas recorrentes em sua obra.
Nascimento
1928 - Rio de Janeiro RJ
Cronologia
Gravadora, pintora, desenhista
1947 - Rio de Janeiro RJ - Faz o curso de filosofia na PUC/RJ
1947 - Rio de Janeiro RJ - Frequenta aulas de pintura no ateliê de Carlos Chambelland
1963-1969 - Rio de Janeiro RJ - Estuda com Walter Marques no ateliê de gravura em metal do MAM/RJ, curso coordenado por Edith Behring
1974 - Londres (Inglaterra) - Estuda fotogravura com Denis Mazi no Croydon College of Art - Bolsa do British Council
1977 - Albuquerque (Estados Unidos) - Estuda litografia com Garo Antreasian na University of New Mexico
1978 - Nova York (Estados Unidos) - Estuda gravura em metal com Roberto Delamonica, na New School
1978 - Nova York (Estados Unidos) - Estuda fotogravura com Margot Lovejoy no Pratt Institute
1974-2003 - Rio de Janeiro RJ - Leciona gravura e ilustração na PUC/RJ
1983/1986 - Rio de Janeiro RJ - Leciona gravura no MAM/RJ
1990-1992 - Porto Alegre RS - Leciona fotogravura no Ateliê Livre
1993-2000 - Rio de Janeiro RJ - Diretora do Centro de Artes Calouste Gulbenkian - Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura
1996 - Rio de Janeiro RJ - Participa do júri do 1º Salão Sesc de Gravura, na Galeria Sesc Copacabana
Críticas
'Servindo-se da fotografia e da gravura, a artista revê uma paisagem onde se estabeleceu o diálogo entre a obra do homem e a da natureza, uma paisagem que está viva graças à mão que a trabalha e ao olho que a observa. É no espaço entre as duas técnicas unidas na fotogravura que se estabelece um discurso que acorda o nosso olho e a nossa mente, nos alerta sobre o perigo que correm essas arquiteturas, essas grades, essas pedras. Um discurso que nos fala dos restos de um passado que é necessário conservar, que tem de ser preservado, que estamos obrigados a salvar porque é nosso e é parte determinante de nosso ser. Thereza aprisiona um instante e os séculos na sua câmara fotográfica. Depois transporta essas fotografias para a chapa sobre a qual grava e regrava, marca incisões, corta, recorta, muda as imagens de lugar, coloca os acentos sobre o que quer assinalar. Selecionando e superpondo detalhes, combinando, desfazendo e refazendo imagens, desenhando lembranças vê, e nos faz ver com a nova luz, nossos espaços e nossa história. Cria uma iconografia própria, soma de construções históricas, paisagens paradisíacas e experiências afetivas, onde, como afirma Carlos Drummond de Andrade, '...as casas/meditam no tempo e no espaço./ ...as ruas/ são roteiros de solitude./ Nelas vão ocultar-se, nuas,/ memórias que o progresso elude' '.
Irma Arestizábal
MIRANDA, Thereza. Paisagens. Curadoria Irma Arestizábal. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1998, p. 10.