Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Walter Lewy
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A0329
Walter Lewy (Bad Oldesloe, Alemanha 1905 - São Paulo SP 1995). Gravador, pintor, ilustrador, paisagista, desenhista publicitário. Estuda na Escola de Artes e Ofícios de Dortmund, Alemanha, entre 1923 e 1927. Realiza sua primeira exposição individual em Bad Lippspringe em 1932, mas ela é fechada quando a Câmara de Arte Alemã proíbe a participação de judeus na vida artística. Vem ao Brasil em 1937, deixando para trás centenas de trabalhos que, enviados para a Holanda, são perdidos durante bombardeio- radica-se em São Paulo. Expõe individualmente no ateliê de Clóvis Graciano em 1944.
Nascimento/Morte
1905 - Bad Oldesloe (Alemanha) - 10 de novembro
1995 - São Paulo SP - 18 de dezembro
Formação
s.d. - Entra em contato com a obra de Yves Tanguy
1923/1927 - Estuda na Escola de Artes e Ofícios de Dortmund (Alemanha), onde entra em contato com a corrente do realismo mágico
Cronologia
Pintor, gravador, ilustrador, paisagista, desenhista publicitário
1929 - Perde seu emprego de gráfico em Bad Lippspringe (Alemanha), e vai viver com os pais no interior
1937 - Muda-se para o Brasil, fixando residência em São Paulo
1938 - Deixa centenas de trabalhos na Alemanha que, enviados para a Holanda, são perdidos durante bombardeio
1965 - Integra a sala especial de surrealismo e arte fantástica, na 8º Bienal Internacional de São Paulo
1967 - Organiza e participa da exposição 12 Artistas Surrealistas, realizada em São Paulo, no Teatro Itália
1974 - É premiado, pela Associação Brasileira de Críticos de Arte, como melhor pintor de 1974, ganhando viagem a Europa
1974 - Recebe o prêmio de Pintor do Ano, pela Associação Paulista de Críticos de Arte
Críticas
'Apesar de um período de trabalho, logo após a chegada ao Brasil no fim da década de 1930, em que o estímulo direto da nova terra o fez preocupar-se em retratar nossos tipos populares e costumes, especialmente através de desenhos e gravuras, a pintura de Walter Lewy, desde antes da transferência, mas sobretudo nos últimos quinze ou vinte anos, observa ligação natural com o surrealismo. Nesse âmbito, a atmosfera que mais o atrai é aquela em que possa situar um conjunto de símbolos de substrato onírico, refazendo toda a realidade objetiva em termos de um novo universo de formas reconhecíveis, porém deslocadas de sua situação original, ou de formas obtidas por dilacerações e acúmulo de elementos orgânicos, viscerais ou de fundo erótico. Tal como em Max Ernst e Yves Tanguy, dois surrealistas de cuja linhagem Lewy mais se aproxima, há nessa pintura, mental e narrativa, desejo de comentar alegoricamente a condição humana na trama da contemporaneidade, em busca de características universais e intemporais que a definam para além das contingências de uma só época e momento. A mediação mental, amalgamando configurações vegetais e minerais num mundo tão real quanto fantástico, visa a colocar o agora na amplitude de um fluxo que abole toda circunstância de tempo e lugar'.
Roberto Pontual
PONTUAL, Roberto. Arte/Brasil/hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.
'(...) Já há sessenta anos ele está criando estes encantos com uma grande fidelidade aos seus conceitos, evoluindo suas paisagens fantásticas para uma visão cósmica nunca vista antes. Entre nós, no Brasil, ele representa de maneira singular a arte que cria mundos imaginários, nos confronta com o mundo dos sonhos, nos leva para uma natureza de formações e plantas, representadas em desenho e formas bem exatas. É uma pintura de técnica superba, comparável à dos mestres antigos. Em cores bem vivas ela nos dá o prazer de sentir uma integração astral, inteiramente concebida pela mente e pelos pincéis do mestre. Com estas suas obras Walter Lewy, um dos grandes nomes do surrealismo, se tornou exponente sui generis na história e na atualidade da criação artística no Brasil'.
Wolfgang Pfeiffer
HOMENAGEM a Walter Lewy: óleos e litografias. Apresentação de Wolfgang Pfeiffer. São Paulo: Faculdade Santa Marcelina, Galeria, 1985.