Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Yutaka Toyota
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A0518
(Tendo, Japão, 1931). Pintor, escultor, desenhista, gravador e cenógrafo. No início da década de 1950, frequenta a Universidade de Arte de Tóquio, Japão. Transfere-se para o Brasil em 1962 e, no ano seguinte, é premiado no 2º Salão do Trabalho, em São Paulo, e no 12º Salão Paulista de Arte Moderna. Entre 1965 e 1968, vive em Milão, Itália, onde conhece designer Bruno Munari (1907-1998). Recebe prêmio na 10ª Bienal Internacional de São Paulo em 1969. Em 1964, expõe individualmente no Museu de Arte Moderna do Rio Grande do Sul (MAM/RS). Ganha prêmios no 1º Salão Esso de Jovens Artistas em 1965, em 1968, na 2ª Bienal de Artes Plásticas da Bahia, em Salvador, e no Salão de Santo André, São Paulo. No mesmo ano, participa do 12º Salão Seibi, em São Paulo. A partir da década de 1970, realiza esculturas para espaços públicos e edifícios no Brasil e no exterior. Entre outros locais estão: a Praça da Sé (1978), o Hotel Maksoud Plaza (1979), ambos em São Paulo, Parque Toyotomi em Hokkaido, Japão (1979). Em 1973, apresenta mostra individual no Museu de Arte Moderna de Kyoto e, em 1974, expõe na mostra Artistas Japoneses nas Américas, no Museu de Arte Moderna de Tóquio. Participa do Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), em 1972 e 1985, sendo premiado no primeiro. Em 1991, é eleito melhor escultor pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em São Paulo.
Comentário Crítico
No início da década de 1960, a pintura e o desenho de Yutaka Toyota tendem ao informalismo com ressonâncias "zen-budistas", traduzidas na utilização de formas circulares, segundo o historiador da arte Walter Zanini. Em Abstração Cinza (1963), a recorrente forma circular aparece sobreposta a uma faixa horizontal e preenchida por outra retangular. Essa sobreposição causa a sensação de que o círculo se projeta para fora, em direção ao espectador, o fundo em cinza esverdeado torna-se mais claro ao redor do círculo, reafirmando essa sensação e conferindo volume. Apesar da presença constante de formas geométricas, o gesto que lhes dá origem é perceptível, e por isso a obra de Toyota pode ser entendida dentro da tendência informal.
As obras Espaço Negativo Infinito e Espaço In-Yo, ambas de 1969, parecem comentar a op art, embora já prenunciando a fase posterior do artista, na qual geometrismo e gesto se separam para dar lugar maior à ilusão perceptiva - Espaço In-Yo apóia-se sobre uma base espelhada côncava. Ainda segundo Zanini, essa guinada no trabalho de Toyota deve-se, sobretudo, ao contato com o artista e designer italiano Bruno Munari (1907-1998). No fim dos anos 1960, Munari produzia esculturas de caráter geométrico que se estruturavam como complicadas dobraduras de papel, solução também presente em Espaço Metamorfose, de Toyota, na qual o equilíbrio do peso do metal se sustenta por meio de pontas e planos meticulosamente estruturados.
Nos anos seguintes, Toyota detém-se principalmente na produção de esculturas pensadas para grandes espaços. Se não há mais a presença do gesto, que é substituído por contornos precisos que caracterizam as obras em alumínio, resistem, porém, a flexibilidade e o ritmo. Em Espaço Cósmico Ressonância (1978), o reflexo no metal modulado dialoga com o entorno. Tanto Zanini como Munari, em textos sobre a obra de Toyota, atentam para a deformação por meio do reflexo que o artista cria, tanto na relação entre obra e ambiente como na própria obra, entre formas justapostas nas quais uma reflete a outra - é o caso de Espaço Cósmico (1979). Ressalte-se ainda a alternância entre plano preenchido e vazado, responsável pelo ritmo da maior parte das obras.